Ezili Danto, também escrito como Danthor, a mãe do Haiti, uma divindade de muitos contrastes, complexa de entender para quem está fora do Vodu. Ela é a grande mãe, em todos os sentidos, mas é uma mãe bem dura, agressiva na sua forma de defender suas crias, feminista, vingativa, ela pune e dá colo ao mesmo tempo. Sua forma de educar pode ser um pouco "questionável", mas sem dúvidas de que é muito eficaz.
Danto é uma mulher jovem adulta, é linda, mas a vida sofrida apagou boa parte dessa beleza, tanto física quanto emocional. Ela trabalha muito, jamais tem tempo para si mesma. Ela tem uma filha, Anaïs, e como Danto é muda, sua filha está encarregada de passar os desejos dela. Ti Jean Petwo ora aparece como filho de Danto, ora aparece como parceiro dela. Em algumas casas antigas, contam que Danto é mãe dos Marasa, e não raro vão falar que Danto é mãe de sete filhos. Ogou Feray é também seu parceiro, e ele é a principal causa da briga entre Danto e sua irmã Freda. Danto representa muito na religião, ela é a mulher solitária, mesmo tendo "seus" parceiros. Ela trabalha no campo, de sol a sol, os filhos (inclusive os servos) vêm em primeiro lugar. Toda a vida sofrida de Danto a torna uma mulher forte e independente, mas ao mesmo tempo amarga e raivosa. Se no Haiti e República Dominicana, onde é chamada de Danto Pye, ela simboliza a mulher do campo, que mantém a família, nos países mais desenvolvidos podemos ver Danto como a mulher independente, empresária, aquela que tem que ser profissional, mãe, amiga, filha e, quando sobra algum tempo, ser uma boa amante. Danto é uma Loa da Nação Petwo, muito agressiva, com a qual não devemos brincar. Ela pode até compreender nossas necessidades e fraquezas humanas, mas não devemos ocupar seu tempo com coisas fúteis. Ela é uma grande protetora das crianças, mas não vai ter a mínima paciência para lidar com crianças mal educadas. Ela é uma voraz protetora das mulheres sofridas e, principalmente, oprimidas pelo machismo, mas ao mesmo tempo Danto pode não ter muito tato em lidar com mulheres fracas e cheias de firúlas. Uma canção muito bonita de Danto exprime muito bem seu lado agressivo:
Set kout kouto, set kout pwenyad
Prete'm dedin un pou m'al vomi sang
mwen
Sang mwen Koule
Português:
Sete golpes de faca, sete golpes de
espada
Dê-me aquela bacia, eu vou vomitar sangue
veja como o sangue
escorre
Assim como seu parceiro Ogou, Danto é vista igualmente como uma guerreira. Mas sua guerra é do dia a dia, é para sustentar em todos os sentidos os muitos filhos famintos. Na canção à seguir,
mostra que não importa quantos golpes ela leve e mesmo que esteja aparentemente derrotada, ela vomitará o próprio sangue na cara do inimigo. É uma forma de mostrar toda a força que ela carrega,
toda a sua superioridade, inclusive, sobre o machismo.
Jou ma'koule, jou ma'koule, jou ma'koule
Map vomi sang mwen bay yo!
Português:
O dia que eu estiver
derrotado
O dia que eu estiver derrotado
O dia que eu estiver
derrotado
Vou vomitar meu sangue e dar a eles
Danto está também - e por extensão - associada com a agressividade da natureza, isto é, enchentes, desmoronamentos, ventanias e grandes tempestades. Um dos muitos lados de Danto, e acredite, podem ser ainda piores do que mostrado aqui, ela é chamada de Baka (Monstro, em uma tradução livre). Assim, ela é considerada uma canibal sanguinária, impiedosa e que só vai se acalmar quando ela ver sangue suficiente derramado. Assim sendo, todo cuidado é pouco com a grande mãe Danto. Se você quiser se aproximar dela com respeito, abordar ela com sinceridade e humildade, lhe oferecer uma vela vermelha e outra azul escura (suas cores sagradas, inclusive o vermelho e verde também são), um copo de rum ou vinho tinto seco, um charuto e um vaso com manjericão, ela vai apreciar esse pequeno esforço. Mas não chegue nela com ideias fracas, dor de cotovelo ou frescuras.
Mama Dantor e o Haiti
Ezili Danto é conhecida por ter supostamente desempenhado um importante papel na história do Haiti, e por isso é chamada de "a mãe do Haiti". Danto, como já
mencionado, é muda e surda (por isso Anais serve como sua intérprete). A razão por ela ser muda remontaria a época da revolução haitiana.
Antes da revolução, Mambo Marinette foi possuída por Ezili Danto em uma cerimônia. Um porco preto foi sacrificado em honra de Danto. O local da cerimônia é conhecido como Bwa Kaiman. Contam que um pacto foi escrito com o sangue do porco negro, assim, dando início a revolta dos escravos.
Mambo Marinette foi a sacerdotisa que incorporou e hoje se tornou uma Loa, muito próxima de Danto. Treze anos após a cerimônia, os escravos declararam vitória e formaram a República do Haiti.
Em algum momento durante essas batalhas, Danto decidiu unir seu povo na guerra. Mas seu povo temia que ela, caso fosse pega, revelaria os segredos que os tornaram vitoriosos na batalha e que por isso deveria ser capturada, - pelo seu próprio povo - para cortar sua língua, tornando-a muda. Agora Danto só pronuncia uma "ke-ke-ke" ou um "de-de-de". O som de sua língua estalando no céu da boca.
No Vodu Tradicional (Sincrético) ela está ligada à Nossa Senhora de Czestochowa.